
Nestor Tipa Júnior
Jornalista, sócio-diretor da AgroEffective
O agro brasileiro tem muitas histórias boas para contar. Histórias de tecnologia, sustentabilidade, sucessão familiar, protagonismo internacional e inovação. Mas essas histórias só têm impacto real quando chegam da forma certa às pessoas certas. Comunicar o agro não é apenas dizer que ele é importante. É fazer com que ele seja compreendido por quem ainda o vê à distância — ou mesmo por quem já está dentro dele, mas enxerga com outros olhos. E, para isso, precisamos de um ponto de partida simples, mas essencial: reconhecer que estamos falando com públicos diferentes.
Há quem fale do agro como se ele tivesse um único público. Mas, na prática, ele conversa com pelo menos oito perfis muito distintos — quatro dentro da porteira, quatro fora dela. Cada um com sua visão de mundo, seus valores, seus canais preferidos e seu nível de conexão com o campo.
Dentro da porteira, convivem jovens que estão começando no setor e buscam propósito, espaço de fala e identidade com o que fazem, ao lado de sucessores que querem transformar a propriedade em negócio, inovar e mostrar que o campo também é lugar de estratégia. Também estão ali gestores que vivem a rotina operacional, tomam decisões sob pressão e precisam de informação útil, objetiva e aplicável. E há ainda os líderes tradicionais, que acumulam experiência e pedem respeito, clareza e foco nos resultados. Nenhuma dessas pessoas quer ouvir a mesma mensagem, da mesma forma.
Fora da porteira, a diversidade é ainda maior. Há uma geração urbana que aprendeu a olhar para o agro com desconfiança, mas que se interessa por sustentabilidade e inovação. Jovens adultos que compram com propósito e querem entender a origem do que consomem. Profissionais que trabalham em áreas distantes da produção rural, mas que desejam compreender melhor o papel do agro na economia e no cotidiano das cidades. E consumidores mais experientes, que buscam confiança, previsibilidade e segurança — especialmente quando o assunto envolve alimentação, meio ambiente e reputação.
Entregar a mesma mensagem para todos esses perfis, no mesmo formato e com a mesma linguagem, é abrir mão de eficácia. A boa comunicação hoje precisa ser segmentada, empática, multicanal e estratégica. Precisa entender os códigos de cada público, adaptar a forma sem perder a essência e respeitar as referências de quem escuta. Isso não significa mudar o conteúdo, mas saber como ele deve ser apresentado para ser compreendido.
Quando o agro se comunica com intenção, clareza e adaptação, ele constrói mais do que imagem. Ele constrói ponte, constrói entendimento e constrói confiança. Em um tempo de ruído e desinformação, comunicar certo é mais do que diferencial. É necessidade.
Esse é o caminho: traduzir o agro para múltiplos olhares, mantendo a verdade no centro e a estratégia como aliada.