
O Brasil é um dos principais produtores e exportadores de proteína animal do mundo e, por isso, desempenha um papel estratégico no abastecimento de alimentos em diversos mercados internacionais. Nossas agroindústrias são reconhecidas pela escala, eficiência e competência, abastecendo-se de matérias-primas oriundas da produção de bovinos, frangos, suínos e ovos. A condição sanitária dessas populações animais é alvo de constante vigilância, a fim de preservar a saúde única e garantir a continuidade do o aos mercados externos. Essas populações, no entanto, são naturalmente suscetíveis a doenças contagiosas, muitas de rápida disseminação, o que exige respostas ágeis por parte dos órgãos de defesa agropecuária. Exemplos recentes incluem focos de febre aftosa na Europa e o último surto de influenza aviária nos Estados Unidos, ambos registrados em 2025. O Brasil não enfrentava uma emergência zoossanitária de repercussão internacional desde outubro de 2005, quando foi identificado um foco de febre aftosa na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, totalmente saneado apenas em 2006.
À época, reportagens destacavam o descaso do governo federal, evidenciado pela queda no ree de verbas destinadas à vigilância de fronteira e ao controle do trânsito internacional de animais e vegetais (houve fortes suspeitas de que o gado doente veio do Paraguai). A mídia escrita da época indicou que entre 2000 e 2002 o ree em dinheiro tinha sido de quase 40 milhões de reais, caindo em 2005 (até 10 de outubro) para 2,2 milhões de reais. O então Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo declarou que não recebia recursos federais há três anos, e que a situação se repetia em diversas unidades da federação.
Desde então, muito evoluímos. A resposta do serviço veterinário oficial brasileiro ao recente foco de influenza aviária no Rio Grande do Sul foi rápida e alinhada aos protocolos e treinamentos existentes.
Contudo, algumas notícias atuais reacendem velhos alertas, como a carência de efetivo nos órgãos de defesa agropecuária. Em meio ao primeiro enfrentamento de surto de gripe aviária de alta patogenicidade na avicultura comercial do Brasil o Ministério da Agricultura e Pecuária convocou candidatos aprovados no último concurso, sendo que 23 deles são do quadro da própria defesa agropecuária do Rio Grande do Sul, o que vai sobrecarregar ainda mais os fiscais agropecuários deste Estado como já alertado pela Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul. A carreira federal hoje conta com mais estrutura, e financeiramente é mais atrativa que da maioria dos órgãos estaduais.
Entretanto mesmo na esfera federal as coisas ainda carecem de melhorias, pois em 2023 o sindicato dos fiscais federais agropecuários relatou noticia que os funcionários do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Campinas, onde são feitos os diagnósticos de influenza aviária, trabalhavam com insegurança devido aos constantes furtos no local.
Neste mês se comemora a Campanha Nacional do "Mês da Saúde Animal", por força da Portaria MAPA 583 de 16/05/2023. Dois anos depois, em 15/05/2025, o próprio MAPA publica a portaria 795 declarando estado de emergência zoossanitária em Montenegro (RS) devido a infecção pelo vírus da influenza aviária de alta patogenicidade em estabelecimento de aves comerciais. Curiosamente a portaria 583 cita que neste mês se deve promover a mobilização nacional para fomentar a participação e o engajamento das partes interessadas na saúde animal e na produção pecuária; a imprensa tem feito isso diariamente nos últimos dias, até porque notícias ruins atraem mais atenção do público. Agora resta torcer pelo trabalho conjunto das autoridades para que o foco esteja saneado o mais rápido possível e que erros do ado e de hoje possam ser absorvidos e compreendidos para que não haja recorrência. Dada a importância do Brasil na produção de alimentos e proteína animal no cenário global, a sanidade de nossa agropecuária é um pilar essencial para a estabilidade da nossa economia, bem como para garantir a segurança alimentar dos brasileiros e dos países que consomem nossos produtos.