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Saúde humana e saúde do solo: irmãos gêmeos



Altamiro Alvernaz

O corpo humano é um ecossistema complexo, habitado por trilhões de microrganismos que desempenham funções essenciais para a manutenção da saúde. O intestino, em especial, é um dos ambientes mais ricos em diversidade microbiana, abrigando bactérias, vírus, fungos e protozoários que compõem o chamado microbioma intestinal.

Durante décadas, o conceito de "somos o que comemos" guiou escolhas alimentares e estilos de vida, ressaltando a importância da nutrição para a saúde. Essa perspectiva enfatizou o consumo de alimentos frescos, balanceados e ricos em nutrientes como fator determinante para prevenção de doenças e manutenção do bem-estar. No entanto, com o avanço da ciência, especialmente da microbiologia, revelou um novo paradigma: "somos o que hospedamos". Essa expressão reflete a profunda influência desses microrganismos em nossa fisiologia, imunidade e bem-estar geral. O conceito de "somos o que hospedamos" amplia a compreensão da saúde ao incluir os microrganismos que convivem conosco e no meio ambiente. Esse entendimento, além de fundamental, revela que a saúde humana e ambiental está diretamente relacionada à diversidade e ao equilíbrio das comunidades microbianas.

O microbioma intestinal, composto por uma vasta comunidade de microrganismos, desempenha um papel crucial na manutenção da saúde. Quando diversificado e equilibrado, ele oferece inúmeros benefícios. A falta de diversidade microbiológica no intestino, conhecida como disbiose, pode desencadear uma série de doenças e distúrbios de saúde, como diabetes tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares, síndrome do intestino irritável, além de agravar quadros alérgicos e transtornos mentais.

SAÚDE DO SOLO

Assim como o corpo humano, o solo também possui um microbioma diversificado, fundamental para seu equilíbrio e produtividade. Solos ricos em microrganismos proporcionam múltiplos benefícios. Assim como o corpo humano, o solo é um ecossistema vivo, onde trilhares de microrganismos desempenham funções essenciais para a manutenção da fertilidade e da produtividade agrícola. A expressão "somos o que hospedamos" também se aplica ao solo, pois a saúde do ambiente agrícola está intimamente ligada à diversidade e ao equilíbrio da microbiota subterrânea. Bactérias, fungos, actinobactérias e outros microrganismos formam a base dos ciclos biogeoquímicos que sustentam o crescimento das plantas e a resiliência do solo.

Os microrganismos do solo desempenham papéis fundamentais para a saúde de todo o ecossistema. Sem eles, não há equilíbrio ambiental, e sem equilíbrio, não existe saúde. Bactérias e fungos decompõem a matéria orgânica, liberando nutrientes essenciais como nitrogênio, fósforo e potássio. Microrganismos benéficos, como rizobactérias promotoras de crescimento e fungos micorrízicos, melhoram a absorção de nutrientes e estimulam o desenvolvimento das plantas. Fungos como Trichoderma e bactérias do gênero Bacillus competem com organismos patogênicos, protegendo as plantas de doenças.

Para que os microrganismos acima desempenhem seus papéis de forma eficiente, o solo precisa estar microbiologicamente equilibrado. Solos “dependentes químicos” nunca serão equilibrados. E inserir apenas os microrganismos descritos acima em um ambiente desequilibrado e de um modo sem critério não é suficiente, pois eles não conseguem atingir seu máximo potencial. Um solo harmoniosamente equilibrado é essencial para que os processos biológicos ocorram de maneira eficiente, garantindo um ecossistema saudável e muito produtivo.

A perda de diversidade microbiológica, causada pelo uso excessivo de fertilizantes minerais e pesticidas químicos, monoculturas e práticas inadequadas de manejo, traz como consequência o empobrecimento do solo e o surgimento de doenças bastante conhecidas dos agricultores. O aumento de fungos patogênicos como Fusarium e Rhizoctonia é favorecido pela redução de microrganismos benéficos, causando danos às raízes e murcha das plantas. A baixa diversidade de microrganismos antagonistas permite a proliferação de nematoides fitopatogênicos, prejudicando culturas como soja, milho e hortaliças. Esse desequilíbrio pode levar ao declínio do solo, marcado pela perda de fertilidade e maior vulnerabilidade a pragas e doenças. Isso é o que o amigo vive hoje com o uso contínuo de fertilizante mineral e de defensivos químicos. Seu solo é “dependente químico”.

A diversidade microbiológica é um recurso valioso para a agricultura. Investir em práticas que preservem e estimulem essa diversidade é essencial para garantir uma agricultura produtiva, resiliente e sustentável, além de contribuir para a saúde e equilíbrio dos ecossistemas agrícolas.

Assim como no corpo humano, a diversidade de microrganismos no solo é essencial para a saúde e a produtividade dos ecossistemas agrícolas. Promover um solo biologicamente ativo e equilibrado é fundamental para garantir sustentabilidade, alta produtividade e segurança alimentar.

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